Stop la greve
É engraçado que ainda a semana passada falava sobre greves.
Começando na greve dos argumentistas americanos, fomos ter invariavelmente à fraca adesão às greves em Portugal e ao clima anti-grevista que se vive. E um colega meu lançou um comentário que já ouvi diversas vezes ao longo da minha vida: «Em França é que as greves são a sério. Quando fazem é mesmo a valer e toda a gente adere, e os Governos levam a sério e têm de ceder».
Claro que tudo isto num tom de "se cá fosse assim, valia a pena fazer greve", o que é paradoxal, mas não é o assunto que interessa.
Eu até não simpatizo com os franceses... E Paris, sendo indiscutivelmente uma grande e bonita cidade, não deixa de ser a capital europeia com que menos simpatizei... Mas também ainda só conheço quatro.
E é claro uma potência neo-liberal, e uma das forças de interesses da União Europeia.
Mas ainda há realmente um "je ne sais quoi" em França...
Talvez por ser a terra da revolução... francesa.
Ou talvez por lá ter surgido coisas como as férias pagas...
Oh, e as manifestações estudantis de Maio de 68 (que a maioria nem sabe bem do que se trata, mas que de alguma maneira tem uma memória colectiva do facto histórico)...
E por vermos na TV os efeitos das grandes greves por lá... Ainda o ano passado o presidente teve de vetar a lei do primeiro emprego, por causa das manifestações dos estudantes...
E mesmo por dados económicos:
Despite significant liberalisation over the past 15 years, the government continues to play a significant role in the economy: government spending, at 53% of GDP in 2000, is the highest in the G-7. Labour conditions and wages are highly regulated. The government continues to own shares in corporations in a range of sectors, including banking, energy production and distribution, automobiles, transportation, and telecommunications.E na semana seguinte lá veio uma greve em França...
(http://en.wikipedia.org/w/index.php?title=Economy_of_France&oldid=171537482)
A poucas horas do início, ontem à noite, da greve dos trabalhadores dos caminhos-de-ferro em França, aos quais se juntam hoje os funcionários das empresas públicas de electricidade e gás, do metro e autocarros da região de Paris, o Presidente Nicolas Sarkozy reiterou, como tantas vezes, a sua intenção de levar até ao fim as reformas anunciadas, independentemente do descontentamento que possam suscitar.E eu pensei... Uou... Má jogada do Governo, vão se lixar...
(http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1310584)
Mas que andará Sarkozy a tramar? De certo que não foram mexer em direitos dos trabalhadores! Seria impensável...
Na França? Com o seu sistema de segurança social de bandeira?! Quem nunca ouviu alguém comentar "Olha, sabes quanto é que em França te pagam se tiveres três filhos?"; ou "Olha, recebo mais da minha pensão de França do que da reforma de cá..."? E quem, se viu o «Sicko», não ficou com a imagem da senhora que até nos vai a casa lavar a roupa?
Nah, aí ninguém iria pensar tocar...
Os 500 mil trabalhadores abrangidos pelos regimes de excepção serão agora levados a descontar para a segurança social os mesmos 40 anos dos outros trabalhadores e não os 37,5 anos que lhes eram exigidos até aqui. Numa entrevista ao Journal du Dimanche, o primeiro-ministro François Fillon invocou a "exigência de justiça" e a ausência de "qualquer solução alternativa para salvar o sistema de pensões".E eu pensei... Epá, já se tem a mesma conversa lá que se tem por aqui... Direitos adquiridos e benefícios, anteriormente justificados, são chamados "privilégios"... Da segurança social diz-se que não tem viabilidade financeira... E que a administração pública tem de ser reduzida...
Estas reformas não são as únicas, nem as mais abrangentes - o Governo francês já preparou a opinião pública para uma reforma da administração pública que poderá levar à supressão de 23 mil postos de trabalho em 2008.
(http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1310584)
Bem, vai ser cá um tumulto! Um Governo que mexe com os direitos dos trabalhadores e publicamente despreza e ignora a greve...
(Foto: Mal Langsdon/Reuters)
Ne laissons pas la dictature des syndicats prendre le pouvoir en France ! Les syndicats ne pèsent que 8,2% des salariés sur notre territoire, un taux bien moins élevé que celui des Etats-Unis ou de l’Allemagne pour ne prendre que ces deux exemples.A "ditadura dos sindicatos"... Sindicatos que não representam ninguém... Piquetes anti-greve... «A quand un gros mouvement d’envergure contre la grève?»
(http://www.stoplagreve.com/spip.php?article4)
E eu pensei... Nah, esquece lá França. Já estão iguais a nós. E viva a desinformação.
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