Dor de pensar... (1)
[Teste de Português - 12º ano (22/02/1999) - editado]
Fúria nas trevas o vento
Num grande som de alongar,
Não há no meu pensamento
Senão não poder parar.
Parece que a alma tem
Treva onde sopre a crescer
Uma loucura que vem
De querer compreender.
Raiva nas trevas o vento
Sem se poder libertar.
Estou preso ao meu pensamento
Como o vento preso ao ar.
Fernando Pessoa
1- O eu identifica-se com o vento. A ideia usual do vento é a de liberdade, de estar em todo lado e circular sem destino certo. No entanto, na realidade o vento está preso ao ar, não pode existir sem ele. Num sitio sem ar não pode haver vento, e é esse o motivo da fúria e raiva que sente.
O sujeito poético atribui estes sentimentos ao vento para nos mostrar o que sente o eu. Tal como o vento, o eu não se consegue separar do pensamento. A sua raiva é ainda maior porque essa ligação é sua culpa, da sua alma que tem «uma loucura que vem de querer compreender».
No extremo, este poema pode-se interpretar como se o vento se liberta do ar porque o vento é ar, o eu não se liberta do pensamento porque o eu é pensamento.
5- Este poema insere-se na temática da Dor Pessoana de Pensar, em que o poeta demonstra o seu desejo de poder parar de pensar.
Segundo ele, o que nos separa da liberdade absoluta é o pensamento, que nos torna responsáveis e racionais, sendo-nos impossível sentir e exteriorizar esses sentimentos sem os pensar.
O pensamento torna-nos conscientes, e é esse pensar do sentimento que nos faz sofrer.
Pessoa deseja a inconsciência, e a consciência da inconsciência, de forma semelhante à ceifeira que analisa em outro dos seus poemas. Curiosamente, nesse mesmo poema ele deseja ser levado pelo vento, identificando-o como fonte de liberdade, ao contrário deste poema.
Fúria nas trevas o vento
Num grande som de alongar,
Não há no meu pensamento
Senão não poder parar.
Parece que a alma tem
Treva onde sopre a crescer
Uma loucura que vem
De querer compreender.
Raiva nas trevas o vento
Sem se poder libertar.
Estou preso ao meu pensamento
Como o vento preso ao ar.
Fernando Pessoa
1- O eu identifica-se com o vento. A ideia usual do vento é a de liberdade, de estar em todo lado e circular sem destino certo. No entanto, na realidade o vento está preso ao ar, não pode existir sem ele. Num sitio sem ar não pode haver vento, e é esse o motivo da fúria e raiva que sente.
O sujeito poético atribui estes sentimentos ao vento para nos mostrar o que sente o eu. Tal como o vento, o eu não se consegue separar do pensamento. A sua raiva é ainda maior porque essa ligação é sua culpa, da sua alma que tem «uma loucura que vem de querer compreender».
No extremo, este poema pode-se interpretar como se o vento se liberta do ar porque o vento é ar, o eu não se liberta do pensamento porque o eu é pensamento.
5- Este poema insere-se na temática da Dor Pessoana de Pensar, em que o poeta demonstra o seu desejo de poder parar de pensar.
Segundo ele, o que nos separa da liberdade absoluta é o pensamento, que nos torna responsáveis e racionais, sendo-nos impossível sentir e exteriorizar esses sentimentos sem os pensar.
O pensamento torna-nos conscientes, e é esse pensar do sentimento que nos faz sofrer.
Pessoa deseja a inconsciência, e a consciência da inconsciência, de forma semelhante à ceifeira que analisa em outro dos seus poemas. Curiosamente, nesse mesmo poema ele deseja ser levado pelo vento, identificando-o como fonte de liberdade, ao contrário deste poema.
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